2020: Os primeiros seis meses e o que esperar dos próximos

2020: Os primeiros seis meses e o que esperar dos próximos

Vivemos um ano paradoxal. Ao mesmo tempo em que há a sensação de que 2020 é um ano que não começou, a realidade foi dura nos primeiros 180 dias, sendo incerto como serão os próximos 6 meses. Não temos como dissociar o movimento “do mercado” com a pandemia da COVID-19, mas neste artigo vamos nos ater ao mundo financeiro, resumindo o primeiro semestre, vislumbrar o que pode ocorrer nos próximos meses e quais alternativas temos para investir melhor.

Cenário econômico de 2020: otimismo vs inesperado

Iniciamos 2020 com vários profissionais do mercado otimistas com os rumos do Ibovespa, coma previsão de encerrar o ano em torno de 140 mil pontos. Eu, inclusive, diga-se de passagem (O que será de 2020?). Até iniciamos bem o ano, com o índice quase tocando os 120 mil pontos em 23/janeiro. Depois disso, tudo é história. Incrível constatar que o principal indicador do mercado acionário brasileiro caiu para quase a metade do seu recorde, e já subiu 50% após atingir a mínima. Por 6 vezes a B3 teve de paralisar os negócios, sendo mais de uma vez em um único pregão, do dia 12/março, quando a Bolsa quase encerrou as transações com o Ibovespa aproximando-se de uma queda de 20%.

O dólar saltou de R$ 4,01 para quase R$ 6,00 e agora gira em torno de R$ 5,30. A Selic, que há 6 meses era 5% a.a., chegou a 2,25% na reunião do COPOM de junho, podendo descer mais nos próximos meses. Quem sentia saudade dos juros fartos e “fáceis” de 1% ao mês, agora convive com o desafio de encontrar caminhos para seu dinheiro render pelo menos igual a inflação. O antigo dragão, aliás, adormeceu de vez em meio à parada forçada da economia, com as previsões de que os preços avancem 1,5% neste ano. Se confirmado, será a menor variação do IPCA na série histórica iniciada em 1980.

E os investidores?

Mesmo durante este período de alta volatilidade, houve uma continuidade do movimento de mudança estrutural no mercado de capitais brasileiro. A entrada das pessoas físicas na Bolsa se intensificou neste ano, com quase 1 milhão de investidores chegando na B3 nos primeiros seis meses de 2020. Ao final de junho, eram 2,65 milhões de pessoas físicas que aplicavam seus recursos financeiros em renda variável, que inclui ações, FIIs, BDRs, ETFs, etc. De acordo com um estudo divulgado pela B3, o novo investidor é mais jovem e se preocupa em diversificar seus investimentos, começando a montar sua carteira com valores baixos. Isto é extremamente positivo e mostra a maturidade que o brasileiro começa a ter para investir. Outro dado interessante vem do saldo da pessoa física na Bolsa, que encerrou o primeiro semestre positivo em R$ 39,9 bilhões, movimento contrário dos investidores estrangeiros, que partiram em retirada do Brasil no primeiro semestre, acumulando saldo negativo de R$ 76,5 bilhões.

Onde investir em momentos de incerteza?

Diante de tudo isso, para onde correr? Onde investir neste momento de incertezas? Incerteza, aliás, não pode ser justificativa para inércia. Justamente nestes momentos é que costumam surgir as oportunidades.

O futuro do Tesouro Direto e da Renda Fixa

O Tesouro Direto deve ter sua fatia em uma carteira diversificada, mas o mercado clama por uma redução da taxa de custódia cobrada semestralmente pela B3. De acordo com o que vem sendo noticiado, há estudos para esta redução e deveremos ter novidades nos próximos meses. Isto se justifica, afinal, para quem investe no Tesouro Selic, este custo representa um décimo da sua rentabilidade anual. Como este título deve ocupar o espaço de reserva de emergência, devido a sua liquidez, é compreensível que tenha uma rentabilidade menor. Mas deve ficar claro que o Tesouro Selic, no cenário atual, rende menos até que a poupança para aplicações com prazo de até 1 ano. Para os demais títulos do Tesouro Direto, estes cumprem papéis importantes nas carteiras de qualquer investidor, principalmente para aqueles que planejam a aposentadoria e aplicam nos títulos que garantem uma remuneração real (acima da inflação), como é o caso do Tesouro +IPCA. Estes títulos, com vencimento em datas longas, de 2035 a 2055, chegam a render a variação do IPCA mais 4% a.a., em média.

Mais uma vez não custa ressaltar que juros baixos não é uma sentença de morte para a renda fixa. Estes ativos, sejam CDB, LCI, LCA, CRI, CRA, LF, entre outros, devem seguir nas carteiras do investidor. Talvez seja exigido algum rebalanceamento, a depender do perfil, mas a renda fixa é importante por trazer títulos que combinam previsibilidade, segurança e isenção de IR sobre rendimentos. Vale citar as oportunidades oferecidas por títulos de instituições de menor porte, que costumam remunerar melhor do que as ofertas dos bancos grandes.

Fundos de Investimento

Investir em Fundos segue uma boa estratégia, independente do mercado de atuação, visto que você pode aproveitar a expertise dos gestores para encontrar as melhores oportunidades. Para quem decidir investir em renda fixa através dos Fundos, é importante observar que a taxa de administração deve ser inferior a 1%. Aliás, que tal observar como foi o desempenho dos gestores durante a chacoalhada dos mercados? Pode ser uma boa forma de selecionar os fundos, nunca esquecendo aquele velho mantra de que “rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura”. Considero que é interessante observar a gestão e resultados nestas situações de estresse, afinal, se é para lembrar velhos mantras, podemos também citar aquele que diz: “é nesta hora que separamos os homens dos meninos”.

Vale a pena investir em Ações no cenário atual?

Por fim, investir em ações ainda é uma boa alternativa neste cenário incerto que temos? Como muitos investidores estão descobrindo, a renda variável é o caminho para buscar rentabilidades diferenciadas em um mundo de taxa de juros extremamente baixas, principalmente para nosso padrão. Justamente nestes períodos de incerteza é que estão guardadas as oportunidades. Basta ver o quanto quem acreditou na Bolsa durante o pico da volatilidade dos mercados pode ter obtido de retorno ao investir em determinadas ações quando o Ibovespa rondava os 60 mil pontos. Quem perseverou e entendeu que ação é investimento de médio/longo prazo, já pode estar ganhando algo em torno de 50%. Isto em poucos meses. Mas sabemos que isto não é o comum, que pode ter sido uma janela de oportunidade, que ocasionalmente se abre neste mercado e em momentos de irracionalidade. A seleção, a partir de agora, deve ficar mais criteriosa, visto que boa parte da recuperação já precifica a retomada gradual da economia, com influência importante também do excesso de liquidez nos mercados.

A injeção de estímulos fiscais e monetários adotados nas maiores economias do mundo, se por um lado garante liquidez, traz alguma distorção entre o mercado e a realidade. Contra fluxo não há argumento e isto tem ajudado para o movimento positivo das bolsas. Por aqui isto fica mais evidente, uma vez que o movimento de recuperação visto nos últimos três meses embute muito mais uma perspectiva de recuperação econômica e fluxo do que propriamente uma melhora efetiva. A atividade econômica deve seguir errática e desigual, a depender da evolução da pandemia durante os próximos meses, com fechamentos e reaberturas conforme a situação do momento e fases diferentes de acordo com localização geográfica, uma vez que não há uma uniformidade da situação. Mesmo com qualquer retomada, nada deve impedir o tombo do PIB neste ano, que deve registrar a queda histórica superior a 6%. O dólar deve seguir volátil, mas sua expectativa para o final de 2020 não traria muita variação, com a Pesquisa Focus apontando uma taxa de câmbio em R$ 5,20 em dezembro.

O mercado internacional pode ser uma alternativa e o investidor deve buscar fundos que anulem o efeito cambial. Mas é bom frisar que investir no exterior também traz alguns focos de atenção, como a eleição norte-americana e possíveis atritos comerciais entre as maiores economias. Por aqui também temos nossas nuances, além das já comentadas anteriormente, com a necessidade do Governo e Parlamento voltarem à agenda de reformas, modernização do Estado e controle das contas públicas. Aliás, os gastos para conter os efeitos da pandemia são justificáveis e necessários, mas não pode ser motivo para relaxamento e arquivamento das promessas da equipe econômica.

Confie. Isto vai passar!

Espero que daqui a seis meses, quando chegarmos ao fim deste “ano que não começou”, todos estejamos melhores. Com saúde, que é o que mais importa, mas também financeiramente. Pois é através dos investimentos que podemos viabilizar muitas das nossas conquistas e sonhos.

Autor: Alexsandro Nishimura – Analista de investimentos CNPI-P e Head de Conteúdo MyCAP

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