A correlação entre a taxa de juros dos EUA e a economia brasileira

A correlação entre a taxa de juros dos EUA e a economia brasileira

Nos últimos meses temos visto notícias como: “Estados Unidos vai elevar a taxa de juros pela primeira vez em anos”, “FED adota postura mais contracionista e aumenta juros ”…Tá, mas o que isso tem a ver com o Brasil?

Neste artigo iremos abordar esse tema de maneira didática, analisando como a taxa de juros norte-americana impacta na dinâmica nacional e na macroeconomia global e brasileira. Boa leitura.

Mas antes de nos aprofundarmos, precisamos retomar um assunto abordado em outro artigo – que você encontra aqui no BLOG – sobre a dinâmica econômica interna em função da oferta e demanda, como isso se relaciona com a taxa de juros, inflação e câmbio e sobre a ação do Banco Central no controle da inflação. Claro que essa leitura não é obrigatória para o entendimento deste artigo, porém é importante pavimentar o assunto dando um base de que, não importa o lugar do mundo, esse pilares são essenciais para o entendimento de como a roda da economia mundial gira.

Treasuries Americanos

Os Treasuries Americanos são os títulos públicos emitidos pelo Governo Federal dos Estados Unidos cujo objetivo principal é o financiamento das despesas públicas nacionais. Traçando um paralelo, seria semelhante ao nosso Tesouro Direto.

Quando há um cenário de instabilidade mundial gerando aversão a risco por parte dos investidores – como foi o que aconteceu durante a pandemia, e agora, mais recentemente, com o conflito geopolítico entre Rússia e Ucrânia (e Aliados) – há uma busca por parte de investidores por segurança, e os Treasuries Americanos são tidos como referência de ativos livres de risco (ou risk free), já que são considerados os papéis mais líquidos e seguros do mundo. Ou seja, uma excelente reserva de valor.

Além disso, esses títulos servem como base de cálculo para investimentos e valor das empresas, sendo assim, em cenários contracionistas, são considerados como benchmark para outros ativos e performance de fundos internacionais.

O pensamento é o seguinte: Ora, será que vale a pena investir nessa empresa em meio a tantas incertezas, podendo deixar o meu dinheiro mais seguro e com liquidez? A resposta é quanto o investidor tem disponibilidade a tomada de risco e qual retorno entre os investimentos.

Ligação entre a taxa de juros norte-americana e o Brasil

De maneira objetiva, o principal marco para que esse tema esteja em voga atualmente foi a pandemia da COVID19 e as medidas de estímulos de retomada econômica dos EUA.

Nesse cenário de injeções de capital, via auxílios emergenciais, e recompra de títulos públicos americanos a fim de manter a economia dinâmica, a taxa de juros norte-americana, que antes beirava zero, teve que ser reajustada como forma de controlar a inflação, que se mostrou resiliente e superior a estimada, fazendo com que o FED iniciasse um movimento de contenção da mesma, adotando uma postura mais hawkish, ou seja, mais agressiva (essa situação parece familiar?).

Assim, os títulos, começaram a gerar mais rentabilidade, tornando-os ainda mais atrativos, resultando em um fluxo maior de entrada de dólares para os EUA, afetando diretamente países emergentes, como o Brasil. Resultando em uma desvalorização do real frente ao dólar.

Basicamente, esses dólares e investimentos migram de outros mercados – principalmente dos emergentes – para os EUA, enxugando a moeda norte-americana em circulação.

Isso, na dinâmica brasileira, além do impacto na dívida externa, gera uma “fuga” de investidores estrangeiros, resultando em uma maior apreciação do dólar frente ao real. Ou seja, há necessidade de mais reais para comprar um dólar.

Claro que uma situação como essa pode gerar um grande baque na economia do país. Assim, o Banco Central Brasileiro, com intuito de reverter esse fluxo e conter a saída de investidores estrangeiros, também aumenta a taxa de juros brasileira (SELIC) a fim de tornar os investimentos no brasil com prêmio final compensando o risco.

Para citar uma das consequências de tal migração, destacamos o impacto nas empresas (ações) negociadas em bolsa, uma vez que as companhias são precificadas a uma taxa de desconto maior, ou seja, o preço justo (ou alvo) diminui.  

Essa guinada também gera a elevação das despesas financeiras, encarecimento das dívidas e de futuras captações, resultando em um movimento de aversão a risco, que impulsiona a venda de ações e uma migração dos investidores para a Renda Fixa – em função da diminuição da diferença de atratividade e do retorno esperado.

Por fim, Juros mais altos estrangulam o crescimento da economia, diminuindo o poder de compra da população.

Espero ter, de maneira objetiva, exemplificado a correlação e dinâmica entre a taxa de juros americana e a brasileira para que você, investidor ou futuro investidor, possa compreender e ter uma boa leitura dos movimentos de mercado e geração de expectativas para processos de decisão de investimentos.

Lembre-se que, em diferentes momentos é possível ter bons resultados com seus ativos, e uma das maneiras mais importantes é via diversificação e diluição do risco específico (sistêmico) da sua carteira, seja via geográfica, cambial ou setorial, e saber aproveitar as oportunidades que o mercado apresenta.

Julia Monteiro



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