Análise de Resultados São Martinho – 4T do ano-safra 2022/23

Análise de Resultados São Martinho – 4T do ano-safra 2022/23

Apesar de não estarmos na época exata de divulgação de resultados e balanços das companhias, empresas que atuam no setor agro seguem um calendário diferenciado, andando em paralelo com o chamado “ano safra”. Como é o caso da São Martinho, um grupo brasileiro que representa um dos maiores grupos sucroenergéticos do Brasil. Como de praxe, acompanhamos todos os dados e informações divulgadas para trazer o nosso parecer sobre a empresa. Boa leitura.  

Saiba como vamos abordar esse tema:

História da São Martinho

A empresa nasceu na Itália, e desde 2000 tem alçado voos mais altos, criando uma estrutura unificada para administrar o negócio de forma cada vez mais profissional, abrindo espaço para novas oportunidades de investimento.  

O conceito de grupo empresarial foi ainda mais consolidado nos últimos anos com a padronização da marca. Isto ajudou a fortalecer o desempenho da companhia, principalmente com a abertura do capital em 2007, buscando mais competitividade em seu mercado de atuação. 

Perfil Corporativo

A São Martinho está entre os maiores grupos sucroenergéticos do Brasil, com capacidade aproximada de moagem de 24 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, com índice médio de mecanização de colheita de 100%, sendo uma referência no setor.  

Possui quatro unidades em operação: Usina São Martinho, em Pradópolis, na região de Ribeirão Preto (SP); Usina Iracema, em Iracemápolis, na região de Limeira (SP); Usina Santa Cruz, localizada em Américo Brasiliense (SP) e Usina Boa Vista, em Quirinópolis, a 300 quilômetros de Goiânia (GO).  

As usinas São Martinho, Santa Cruz e Iracema produzem açúcar e etanol, enquanto a Usina Boa Vista é dedicada exclusivamente à produção de etanol. Todas elas geram energia elétrica a partir da queima do bagaço da cana, garantindo autossuficiência, além da possibilidade de venda do excedente.  

A Companhia possui uma diferenciada plataforma logística para escoamento de produtos, por sua alta capacidade de armazenagem e proximidade de importantes rodovias e ferrovias. Além disso, possui ramal ferroviário exclusivo, culminando em praticidade e custos menores com a produção sendo escoada em tempo real.  

Após um abrangente processo de profissionalização, a partir de fevereiro de 2007, a São Martinho teve suas ações negociadas no Novo Mercado, segmento mais elevado de governança corporativa da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), sob o ticker SMTO3. 

Analisando os resultados 4T23 da São Martinho

Em 20/06/2023 a São Martinho anunciou seu resultado do quarto trimestre, referente a safra 2022/23 (4T23), registrando queda de 32,6% A/A no lucro líquido da companhia, saindo de R$ 225,4 milhões para R$ 151,9 milhões.

Apesar do ano desafiador, que foi resultado de adversidades climáticas – afetando a produtividade – mudanças tributárias nos preços de gasolina, que tiraram a competitividade do etanol, e preços mais altos dos insumos – devido à guerra entre Rússia e Ucrânia, vemos resultados sólidos da companhia nesse final de safra.  

A receita líquida totalizou R$1,8 bilhão no quarto trimestre da safra 2022/2023 (4T23), apresentando um aumento de 22% A/A devido aos maiores preços de comercialização do açúcar.  

Entendemos que as perspectivas para o segmento, tanto de açúcar, quanto de etanol (milho e açúcar), continuam positivas. Destacamos as exportações de etanol como a solução para arbitrar o mercado interno, mais pressionado, mitigando a maioria dos fatores negativos.  

O Ebitda ajustado atingiu R$917,1 milhões, elevação de 19% A/A, já a margem Ebitda ajustada caiu 1,4 p.p. A/A, atingindo 50,5%. O lucro caixa atingiu R$ 340,6 milhões no quarto trimestre da safra de 2022/23, um avanço de 55,5% A/A.  

As despesas gerais e administrativas totalizaram R$ 76,1 milhões, apresentando uma redução de 16,3% A/A. O resultado financeiro líquido da São Martinho foi negativo em R$ 131,2 milhões, um recuo de 15,5% A/A sobre as perdas financeiras da mesma etapa da safra anterior.  

A dívida líquida da companhia no dia 31 de março de 2023, atingiu R$ 3,507 bilhões, representando um aumento de 20,6% A/A. 

 
O indicador de alavancagem financeira, medido pela dívida líquida/Ebitda ajustado, atingiu 1,05x no final de quarto trimestre de 2022/2023, elevação de 0,12p.p. A/A. A São Martinho estima uma moagem total de aproximadamente 21,5 milhões de toneladas na safra 2023/24, representando um crescimento de 7,4% em relação à Safra 22/23, e um ATR médio em torno de 141,9 Kg/ton, totalizando 3,05 milhões toneladas (8,8% vis-à-vis 12M23).  

O capex total para safra 23/24 está estimado em, aproximadamente, R$ 2,5 bilhões, representando uma redução de 1,9% em relação aos 12M23. Para o primeiro ano de operação, estima-se um processamento de 420,0 mil toneladas de milho. A produção resultante no período deve adicionar aproximadamente 160 mil m3 de etanol, 134 mil tons de DDGS e 7 mil tons de óleo de milho à operação de cana de açúcar.  

Com uma parte substancial da receita garantida por preços mais altos do açúcar e produtividade maior, há espaço para otimismo devido à queda dos insumos e ao início da operação da usina de etano de milho.  

O Conselho de Administração aprovou pagamento de juros sobre capital próprio (JCP), no valor bruto de R$ 155 milhões, equivalente a R$ 0,447491795 por ação.  

Destaques operacionais da São Martinho

• Lucro Caixa soma R$ 1.291,4 milhões na safra 22/23

• EBITDA Ajustado totalizou R$ 917,1 milhões no 4T23 (+19,0%), com margem EBITDA Ajustado de 50,5%; para a safra 22/23 o EBITDA Ajustado resultou em R$ 3.355,5 milhões (+6,8%) representando uma margem de 50,5%. O desempenho no período advém do maior preço médio de comercialização de açúcar (+27,8% – 4T23 e 22,6% na safra) combinado com a expansão da comercialização de etanol para mercados atrelados a maiores prêmios.

• EBIT Ajustado somou R$ 462,8 milhões no 4T23 (+14,4%), com margem de 25,5%. Para Safra 22/23. O indicador alcançou R$1.704,1 milhões (-5,1%) e uma margem de 25,7%; Lucro Caixa somou R$ 340,6 milhões (+55,5%) no 4T23 e R$ 1.291,4 milhões (-15,5%) no 12M23;

• Fluxo de Caixa Operacional¹ totalizou R$ 1.490,7 milhões no 12M23 (-2,6% em relação ao 12M22);

• Índice de Alavancagem equivale a 1,05 x Dívida Líquida/EBITDA Ajustado ao final da safra (versus 0,93x em 31/mar 2022);

Em 31 de março de 2023 as fixações de preço de açúcar para a safra 23/24 totalizavam ~713 mil toneladas de açúcar (~65% da cana própria), a um preço² de ~R$ 2.314/ton.

Destaques Operacionais

• Na safra 22/23, a Companhia processou aproximadamente 20,0 milhões de toneladas de cana-de açúcar, em linha com o volume processado na safra anterior e guidance atualizado em nov/22.

A produtividade reflete as condições climáticas ocorridas ao longo da safra anterior (21/22): seca prolongada no período e geadas (impactando parte dos canaviais em julho/21).

O ATR produzido apresentou uma redução de 4,0% em relação à safra passada, em linha com a redução do ATR Médio (-4,6% vis-à-vis 12M22).

Guidance de Produção – Safra 2023/24

Conforme Fato Relevante anunciado em 19 de junho de 2023, detalhamos as estimativas em relação a produção e o volume de cana disponível para processamento ao longo da safra 23/24.

Estima-se uma moagem total de aproximadamente 21,5 milhões de toneladas, representando um crescimento de 7,4% em relação à Safra 22/23, e um ATR médio em torno de 141,9 Kg/ton, totalizando 3.050,5 mil toneladas (8,8% vis-à-vis 12M23).

A expectativa de maior disponibilidade de matéria prima e recuperação de produtividade decorre, principalmente, de:

• condições climatológicas normalizadas no período de entressafra (meses de outubro/22 a abril/23);

• investimentos (capex) em tratos culturais realizados ao longo das safras 21/22 e 22/23;

• manejo agrícola diferenciado combinado ao uso de variedades genéticas com melhor produtividade. O mix de produção reflete a maior rentabilidade do açúcar em relação ao etanol.

Abaixo, são detalhadas as estimativas de produção da nova operação de etanol de milho:

Para o primeiro ano de operação estima-se um processamento de 420,0 mil tons de milho. A produção resultante no período deve adicionar aproximadamente 160 mil m3 de etanol, 134 mil tons de DDGS e 7 mil tons de óleo de milho à operação de cana de açúcar (mencionada anteriormente).

Em seguida, é apresentada a produção consolidada da São Martinho considerando as operações de Cana de Açúcar e Processamento de Milho:

Mercado de Açúcar

A região centro-sul do Brasil produziu cerca de 33,7 milhões de toneladas de açúcar no acumulado de 22/23, uma expansão de aproximadamente 5,2% em relação ao mesmo período da safra anterior, decorrente da combinação de melhor produtividade da safra e deslocamento no mix de produção destinado ao açúcar.

O crescimento do preço de açúcar, em US$ c/p, ao longo da safra 22/23 (conforme tabela abaixo), foi sustentado pela concretização das expectativas de menores níveis de produção dos principais exportadores. Em Real (R$/p) o preço ao produtor brasileiro segue trajetória similar.

Mercado de Etanol

Em linha com os dados de produção comentados anteriormente, a região centro-sul do Brasil produziu cerca de 28,9 bilhões de litros de etanol, um aumento de 4,7% em relação à safra anterior.

Também conforme a imagem abaixo, observa-se uma diminuição nos patamares do preço médio do etanol durante a safra 2022/23. Essa redução pode ser atribuída à combinação da isenção fiscal concedida aos combustíveis e à queda nos preços internacionais do petróleo, afetando a maior parte do período de safra.

Composição da Receita Líquida

Nosso parecer sobre os resultados da empresa

Após teleconferência, onde representantes da empresa detalharam as expectativas citadas acima, levando em consideração o risco de tributação e fenômeno La Ninã, julgamos que as Ações da companhia se encontram em patamares de preço atrativo.

Com destaque, especialmente, para a capacidade de venda antecipada de seus produtos (com trava de valor), a possibilidade de elevação do uso do etanol na gasolina e competência para o processamento de milho com foco na produção de etanol e derivados.

Em relação à expectativa de elevação de margens, ressaltamos a queda do preço dos insumos (diesel e fertilizante), elevados por inseguranças resultantes da guerra, e a possibilidade de estocagem de parte dos produtos, gerando margem de negociação para elevar preço médio de vendas.

Por: Julia Monteiro – Analista Funamentalista MyCAP

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